Entrevista com José Luiz Canal, professor adjunto na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Gerente de Projetos Especiais. Possui formação em Engenharia Civil pela UFRGS e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universitat Politècnica de Catalunya. Reconhecido como um dos engenheiros mais renomados do Brasil, possui ampla expertise na área, além de uma trajetória profissional de sucesso, colaborando com alguns dos principais nomes da arquitetura mundial.
Nesta conversa conduzida por Carlos Roberto Patricio (ICZ), Renato Cavalcanti de Albuquerque Tozin (Nexa Resources) e Nanachai Peluso Siqueira (bbosch Galvanização do Brasil), Canal compartilha sua experiência com o uso da galvanização por imersão a quente ao longo de sua carreira — desde os primeiros projetos até os desafios em obras públicas e os ganhos técnicos e econômicos que a técnica oferece.
Confira abaixo:
- Como foi o processo de pesquisa até a especificação do processo de galvanização a fogo?
R: O processo de galvanizar estruturas a quente começou na Fundação Iberê Camargo. O arquiteto Álvaro Siza especificou o concreto branco para esse projeto. Como tínhamos três fases, e a primeira era em concreto cinza, aproveitamos para buscar uma boa referência internacional em construção em concreto branco.
Esse projeto estava na cidade do Porto, chamado Casa da Música, do arquiteto renomado Rem Koolhaas. Lá eles estavam utilizando outro tipo de revestimento, quando vi aquilo me dei conta da importância de proteger as armaduras de concreto, ainda mais em branco.
- O que o levou a considerar o uso de galvanização a fogo em suas obras?
R: Durante a construção do Iberê Camargo conversei com Dr. Jorge Gerdau sobre a responsabilidade de manter a obra por longo período. Tive receios quanto ao epóxi, pois sua aplicação é complexa e, em minha percepção, parecia um pouco inconsistente e de difícil controle tecnológico, analisamos algumas outras opções de revestimento e fomos rapidamente para a galvanização. E desde então todas as minhas obras passaram a ser galvanizadas.
- Quando essa obra foi feita? Você lembra se houve alguma resistência ao uso da galvanização nas suas obras?
R: Em 2004. O mais difícil sempre é a questão de vencer a resistência e a complexidade do processo entre os próprios construtores. A verdade é que as pessoas têm um pouco de relutância em implementar novas técnicas. Um construtor, que trabalha por administração, vê isso como lucro e menos problema no futuro. Mas ter mais uma entidade no processo pode ser visto como um desafio. Quando conseguimos galvanizar a obra do Museu de Arte do Rio (MAR), por exemplo – que para mim foi a mais difícil, porque era uma obra pública – foi necessário usar estratégias muito persuasivas. Eu dizia: “Olha, nós vamos passar por baixo dessa obra um dia e ela vai estar toda escorada, e vocês vão ficar olhando para isso com aquela cara de obra decadente carioca”. Essa foi talvez a mais difícil em termos de convencimento, mas deu certo. As outras obras privadas são mais fáceis, pois os clientes às vezes só questionam. Por exemplo, ali na Fazenda Boa Vista, e todas as obras pessoais que eu faço, é tudo galvanizado por imersão a quente. Eles dizem: “Mas precisa? Não é só marítima?”, e eu digo que sim, vai ser um problema a menos no futuro.
- Qual seu ponto de vista sobre galvanizar obras públicas?
R: A galvanização por imersão a quente nas obras públicas deveria ser obrigatória, como em muitos países desenvolvidos. Devido à importância de executar uma obra pública, considerando impostos e toda a cadeia de desenvolvimento, é fundamental garantir que essas estruturas tenham proteção e durabilidade.
Acredito que as pessoas deveriam ter a garantia de que essas obras, por serem tesouros públicos e financiadas pelo dinheiro dos contribuintes, ofereçam a máxima durabilidade possível. Implementar a galvanização é um passo importante para garantir essa longevidade e proteger o investimento público.
- Ao comparar a galvanização com a pintura, qual a sua opinião?
R: No Instituto Moreira Salles (IMS) que tem uma estrutura super especial tanto de concreto quando de metálica, ambas tiveram como revestimento a galvanização por imersão a quente. Eu considero que temos que planejar a trabalhar pensando lá na frete, por isso tivemos a preocupação de galvanizar todas as estruturas.
- Falando de custo, a utilização da galvanização eleva o custo da obra? Se sim, em que proporção e como se compensa além de analisar o custo de vida útil?
É um percentual sobre um percentual, de um percentual, de outro percentual.
Eu tenho que me preocupar muito mais com os outros gastos em si do que ficar pensando nisso. Por exemplo, a estrutura de um prédio representa 30%, onde 30% é o concreto, 30% é o aço, e dos 30% do aço, o revestimento protetivo representa aproximadamente 20%. Então, a proporção vai chegar lá a 2%, 1%, 1,5%. Se você pensar assim, é 1,5%. Então, eu digo assim, se é 1,5% e vai resolver um problema grande no futuro, é nada. Vamos nos preocupar com outras coisas e desperdícios.
- Falando de energia renovável e certificação LEED, que está cada vez mais em alta, o pessoal do InternationalZincAssociation (IZA) fez um trabalho para mostrar que a construção em aço galvanizado aporta créditos para a construção LEED. Queria saber se você trabalha com essa certificação e se acredita que a obtenção dessa certificação é algo relevante, uma tendência para as construções atuais e futuras?
Eu vou te dizer que em todas as obras do Marcio Kogan, ele sugere aos clientes que façam a certificação, e ele está muito certo. A priori, todo mundo começou. Acho que é muito importante fazer. Depois que fiz a primeira, já estou na terceira casa certificada.
A GBC (Certificadora Brasileira de Gestão) tem um efeito sobre a obra, em questão de acessório, do reuso, da fotovoltaica, da automação, do comissionamento, paisagismo, e nem preciso dizer que essas casas que estamos fazendo têm tudo isso.
Mas, tem uma coisa que é mais importante, que é na condução e na organização da obra e, sobretudo, o que isso dá para o operário e o que ele leva embora disso. Ainda, quando você faz com a certificação, tendo uma pessoa na equipe que está cobrando isso, que está falando com o projetista, com o pessoal na obra, que vai na obra, é melhor. Então, são coisas que eu entendo que vieram para ficar e a gente tem que se reciclar e entender que é melhor. Mas eu não imaginava que era tão importante para o ambiente interno da obra frente aos operários. A construção muda, não é?
- Além do Iberê e do Museu de Arte do Rio, quais foram outras principais obras em que você especificou a galvanização?
R: Já especifiquei o Instituto Moreira Salles e participamos de muitas outras obras importantes.
- Você poderia deixar uma mensagem para os seus colegas sobre a oportunidade do uso da galvanização?
Pensar na galvanização é pensar no futuro. Acho que o Brasil precisa superar barreiras em todos os sentidos quando buscamos fazer as coisas bem-feitas. Devemos abandonar a cultura de improvisação. Nos anos 60, o Brasil fez um grande acervo de arquitetura moderna e hoje o Brasil está com problemas de corrosão nas armaduras, então é essencial que o que estamos construindo para as futuras gerações se destaque como obras arquitetônicas e de alto nível. A galvanização veio para ficar.
Portifólio – José Luiz Canal